domingo, 30 de maio de 2010

Música (Poema)

Há música quando queremos
Na presença ou na ausência
Dos seres que amamos.

Há música quando desejamos
Ter presente os sonhos roubados
Por seres de que gostamos.

Há música como entendemos
Evocando, pensativamente
Seres de que temos saudades.

Escutamo-la em silêncio
Aquietados pelo sofrimento
Saboreamos as palavras
Bebemos a melodia
Caímos embriagados
Permanecendo em letargia.

Há música que é saudade!

Há letras e melodias
De tamanha profundidade
Que nos conferem identidade
Já não pertencem aos autores
Perderam-se de amores
Por quem as ama de verdade.

Há música que é saudade!

Há música que faz sufocar
Abre feridas adormecidas.
Como demoraram a curar!

Há música que faz dançar
Um coração palpitante.
Há música que faz chorar
Qualquer olhar errante.

Há música quando queremos
Há música porque nos perdemos
Por entre mundos de saudade!

OF 18-04-2010

terça-feira, 11 de maio de 2010

Nuvens

Ultimamente, milhares de pessoas têm visto as suas vidas totalmente desprogramadas, à mercê dos caprichos da Natureza, no caso as cinzas do vulcão islandês Eyjafjallajokull.....

Sabemos, pela cobertura omnipresente da comunicação social, o efeito que teve, tem e terá na economia, já de si depauperada, acrescentando ataques de nervos aos senhores que vivem precisamente da necessidade prospectiva de dar algum alento a investidores, consumidores e demais ...
Bem, mas não é propriamente as nuvens de poeira deste vulção que me leva a este texto, apenas um pretexto para glosar com as nuvens...
O que, de facto, me preocupa, melhor me irrita, são as nuvens que teimam em não sair do caminho de muitas pessoas, parecendo que têm um eterno romance de amor com as ditas, não podendo sequer afastá-las dos olhos enamorados.
Esta cegueira propositada impede, naturalmente, de descortinar para lá delas. Os outros tornam-se apenas sombras, estorvam umas vezes, ameaçam outras, conforme a posição da luz solar.
Não viria mal nenhum ao mundo se não tivessem que ter, precisamente, olhos de lince! Já dizia Saint Exupéry no seu “Principezinho” – Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos (por acaso o personagem vivia num planeta que tinha três vulcões, mas como era clarividente!!!). Assim, somos comandados, demasiadas vezes, por pessoas que agarram todas as nuvens de poeiras que pululam por aí, sugam-nas e não mais se livram delas. Irra, não há paciência!
Abaixo os apaixonados pelas nuvens de poeira! Este é o meu manifesto “Anti- Dantas” – Morram ( PIM!) e ressuscitem de olhos límpidos, abertos ao mundo real, abominando as sombras do mundo de Platão...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Se a vida fosse sempre assim

Se a vida fosse sempre assim
Tal como as estações do ano
Que alternam só porque sim
Que seria do ser humano?

Que sentido teriam os gestos
Que decidimos pousar
Neste ou naquele outro
Agora ou noutro lugar
Em rostos angustiados
Que queremos apaziguar.

Como olhar as estrelas
Que tomamos como guias
Brilham sempre, mas vemos nelas
O horóscopo quotidiano
Dando rumo às nossas vidas.
Que faríamos dos sonhos
Que sonhamos acordados
Enquanto vagueamos
Por ruas e caminhos
Juntos, mas desencontrados.

Como pensar o mundo
Estilhaçado de interesses
Se não estivesse presente
Dar a mão a tanta gente.

Que interesse teria a ciência
E demais sapiência
Cabimentada em teorias
Como se fossem alegorias
De tantos seres em agonia.

Como pensar o universo
Que queremos entender
Perseguimos o Santo Graal
E a essência do ser humano
Tudo pela paz universal.
Sim. Que seria do ser humano?

Corpo errante
Carnaval em folia
De alma vazia.
OF 19-03-2010

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O desenho

Ontem, 04 de Maio, escrevi no mural do face:

Em cada dia há coisas comuns dos outros dias...
O comum desses dias é, contudo, sempre diferente.
O incomum de alguns dias é surpreendente...
Hoje recebi um desenho, lindo, tal qual o ar inocente 
Do menino que mo ofereceu, timidamente!

Queria ter postado, no blog, mas não pude; assim decidi assinalar  um dos momentos desse dia com este pequeno texto poético. Sempre que vier ao blog, evocarei o momento e as circunstâncias que proporcionaram esta oferta; sobretudo o menino, de corpo franzinho, de sorriso fácil, quando não há sombras no seu horizonte, de semblante carregado quando transporta os seus medos, intraduzíveis, muito pouco palpáveis, invisíveis até a olhos menos atentos. E como andamos distraídos!
Não é preciso compreender tudo, mas é preciso agir, não reagir, mesmo que verifiquemos que afinal não era esse o caminho. Mas algum percurso foi feito, permitindo uma reflexão que ajudará à passagem para outros patamares de actuação. O desenho, em papel próprio, prometido aquando de uma das nossas conversas, carrega uma forma de agir, a de olhar o outro, ainda que se tate de um menino de 10 anos, com um respeito enorme, procurando descobrir o que está por detrás de uma problemática, seja ela de que natureza for. Por isso não podemos andar distraídos quando se trata de crianças e jovens. Por isso não devemos depositá-los em mãos alheias. Ouvindo, sempre se chegará a algum lado. Impondo, sem negociação (o que implica um diálogo sem marcação temporal), chegaremos a encruzilhadas. Talvez consigamos sair delas através de uma rotunda, entretanto feita! Não quero esperar por uma rotunda, O JP não me perdoaria!

domingo, 2 de maio de 2010

O dia de uma colectividade

É sempre uma festa, o dia de uma colectividade. Mais um aniversário, um pretexto para se comemorar a longevidade, a memória dos que a foram tornando grande, os actores que lhe conferem a sua essência, lembrando quão importante é o seu desempenho, levando longe o nome da sua terra...
Os discursos da praxe são, frequentemente, laudatórios, para quem as apoia e mimam-se uns aos outros, os seus dirigentes. Afinal, bem merecem que, pelo menos um dia em cada ano, proclamem os seus feitos (pois de feitos se trata, não como os que Camões enaltece nos Lusíadas): há carolice, há um não sei quê de auto-motivação, talvez um desígnio pessoal,  para que a "sua" colectividade se projecte no meio, na região, no país, vá lá, no mundo, pelo menos, lusófono.
Aprecio estar presente no dia da colectividade: geralmente a cerimónia religiosa, embora, por vezes, com escassa assembleia, toca-me. Evoco, sem que seja um exercício muito consciente, pessoas, momentos, associo inúmeros factos e os olhos tornam-se transparentes. Sinto a intensidade dos cânticos. O Pai-Nosso tocado por instrumentos de uma banda e cantado por vozes ainda imberbes, é algo de muito especial. Une as almas, não os corpos, não as ideias, certamente. Mas une. Somos todos iguais. Somos mortais. Parece estar mais presente a condição humana. Ao ter presente a longevidade da colectividade, mais tomo consciência da  brevidade terrena. Não devíamos, portanto, nesta linha de raciocínio, tornar as nossas acções ainda mais profícuas? Afinal não podemos perder tempo. É tão curta a nossa passagem!!!
Mas, senhores, o repasto, mais ou menos variado, mas sempre bom pelo convívio, depressa faz esquecer  essa passagem. Afinal, rimos, partilhamos, somos apenas corpo. Esquecemos a essência, passamos à substância. Para o ano haverá mais e tenho a certeza que lá estarei. Ainda é cedo para pensar que estou de passagem. Sinto-me tão viva! Quero estar entre gente que dá vida, de forma tão natural como o pão nosso que comemos cada dia!
Parabéns à Associação de Socorros Mútuos Mirandelense!