terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Um diferente 2014 ou um 2014 diferente... A escolha é tua!

Pintura de Hu JunDi

“Achas que devo?”. Mais do que uma pergunta era quase um ato ilocutório, idêntico a um qualquer cumprimento. Devolveu-me um olhar intrigado. Apressei-me a acrescentar “Escrever um poema ou um textito alusivo ao ano que se aproxima…”.
“Precisamente porque se trata de mais um degrau na passagem pela vida que conhecemos, é que tens a obrigação de escrever. Penso mesmo que ninguém te perdoaria se não o fizesses. Sabes como é, habituaste-nos…”
“Mas conheces-me! Não sou hipócrita. E, sobretudo neste tempo de realidades que me indignam, neste tempo em que, cada vez mais, o aniquilamento da dignidade de tanto ser humano me remete para o receio  de um retrocesso irrecuperável, revestindo de trevas agoirentas as almas de boa vontade…”.
Um longo e pesado silêncio. Não era assunto novo nas nossas conversas.
“Talvez por isso mesmo. Escreve sobre isso. Afinal será mais um um alerta para que, cada um de nós tenha essa consciência, a capacidade de   entendimento para não se deixar manipular. Que convoquemos a nossa força interior e façamos em cada dia de 2014 a diferença…”
“A diferença de ser diferente perante a indiferença dos falsos profetas”, atalhei antes que a hora do entardecer embrumado me fizesse desaparecer na batalha que só estava marcada para depois da meia-noite de 31 de dezembro.
Despedimo-nos. E, pelo sim, pelo não, acabamos por nos desejar  um ótimo 2014, quase impercetível pelas gargalhadas saídas do olhar de infinitos sonhos aconchegados no azul celestial…

Odete Ferreira, num momento em que (vos) desejo passadeiras vermelhas em todos os momentos do ano marcado no calendário, desfilando de cabeça erguida e olhos piscando a estrela alojada em passos de bailarina.
30-12-2013

domingo, 22 de dezembro de 2013

Talvez os mistérios residam aí

Esvazio vivências e memórias.
Dispo o pestilento pessimismo
guardo-o entre roupas primaveris.
Afinal é época de Natal!
Quero vestir o sorriso de otimismo
com pétalas de flores coloridas.
Renascer no sentido poético,
pensar-me no amanhã do sonho,
brilho da estrela guia do caminho.

Preencher os vazios
de noites pesadelo
que marcam rostos aflitos.
Aquecer gélidos arrepios
Esgares retorcidos
de vidas sofridas.
Esfumar sonhos desfeitos.
Partilhar meu afeto renascido.
Chamar para a VIDA
o Tempo da imortalidade,
num rosto angélico cinzelado.

                               Crença.
                         Esperança.
                             Amizade.
                       Fraternidade.
Símbolos de imaterialidade.
                   Alma peregrina
                         luz invisível
                    gesto do afago
                         beijo de sol
oferenda afortunada de mim.
Procura-a algures no teu jardim.
Talvez os mistérios residam aí…

OF (Odete Ferreira) -  21-12-13
Pintura, Johannes Vermeer “Rapariga com brinco de pérola”

Talvez os mistérios residam aí…Neste poema, não o parecendo, seguem os votos de uma quadra vivida em harmonia. Do amanhã, antecipamos os sonhos.
E, sabes, gosto de (te) sorrir… :) <3

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Natal, magia menina

Tempo ansiado,

antecipado
em nós o tempo.
Dias mágicos,
laboriosos em terra de fantasia,
neve que a envolvia…
Trenós, renas
o Natal que me tomava
na pureza de menina.
Entre sonho e realidade,
era do sonho a primazia…
No inverno esbranquiçado,
onde o olhar se extravia,
mano e demais família,
o musgo perfumado
em cesto de carinho forrado
era cuidadosamente depositado.
Não fosse haver algum espinho
que ferisse o Deus Menino.
Na volta escolhia-se o pinheirinho.
Como desfile de moda,
alvo de reparos na forma e estilo,
sacrificava a vida,
doando-se a nova casa
de risos pueris enfeitada.
(As cercanias sorriam.
Habituadas ao correr manso do tempo,
estas visitas de braços abertos acolhiam).
A mãe afadigava-se
com os vapores enevoada,
aspirando apetitosos odores,
ignorava os leves queixumes
da mesa grávida dos doces
que sabiamente confecionava.
Depois, ah, depois…
Olhos gulosos famintos
debicavam as iguarias,
pratos tradicionais saboreados
numa sinfonia orquestrada.
Era o momento de conversa partilhada…
E num serão onde a lareira era rainha,
jogava-se ao rapa e pião.
Em contentamento desmedido
amontoava-se o quinhão.
Éramos ricos.
Paladares e falares
únicos.
União…

OF -  15-12-13
Foto – Autor desconhecido

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Momento(s) XVI


Frio
-----gélido
pingando das copas das árvores
e do nariz das gentes incómodas.

O rio
------esse lugar de frescura
------dos cios enlouquecidos
abranda a correnteza
nesta preguiça gelada.

O céu
--------que adivinho azul
--------em outras paragens
teceu um mar cinzento
de nevoeiro que (nos) imola
no fogo crepitante do lume fumegante.

E eu
------que me atrevi e saí
------sentindo o que não vi
desafio dezembro em dia cinzento.

OF, 07-12-13

sábado, 7 de dezembro de 2013

U2 - Ordinary Love (From Mandela OST) Lyric Video

U2 
Ordinary Love  (Tradução)

O mar quer beijar a costa dourada 
A luz do sol aquece a sua pele 
Toda a beleza que já foi perdida antes 
Quer nos encontrar novamente 

Não consigo mais lutar contra você 
É por você que eu estou lutando 
O mar atira pedras 
Mas o tempo, nos deixa pedras lapidadas 

Não podemos mais nos apaixonar 
Se não podemos sentir um amor simples 
E não podemos alcançar outro nível 
Se não podemos lidar com um simples amor 

Os pássaros voam bem alto no céu do verão 
E descansam na brisa 
O mesmo vento cuidará de você e de mim 
Construiremos nossas casas nas árvores 

Seu coração está na minha manga 
Você o colocou lá com um marcador de magia? 
Por anos eu acreditei 
Que o mundo pudesse levá-lo embora 

Porque não podemos mais nos apaixonar 
Se não podemos sentir um amor simples 
E não podemos alcançar outro nível 
Se não podemos lidar com um simples amor 

Somos fortes o suficiente 
Para um amor simples? 

Não podemos mais nos apaixonar 
Se não podemos sentir um amor simples 
E não podemos alcançar outro nível 
Se não podemos lidar com um simples amor 

Não podemos mais nos apaixonar 
Se não podemos sentir um amor simples 
E não podemos alcançar outro nível 
Se não podemos lidar com um simples amor

Já tudo foi dito (e muito bem dito) sobre um ser especial. Acompanhei reportagens, debates e não me cansei de aprofundar conhecimento sobre esse ser e o seu percurso. Eu nada acrescentaria que fosse relevante. Apenas isto: oxalá surjam mais seres que se lhe assemelhem. O mundo ficaria mais iluminado com estrelas de luz própria por aí... Obrigada, Nelson Mandela

Odete Ferreira, num dia especialmente emotivo...

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Cúmplice do meu estar


Não há um longe.
Nem um perto.
Tão pouco uma mediana distância
entre todo o meu ser pensamento
e o tu, totalidade do momento.

Consigo apalpar a serenidade
na casa do meu olhar,
mobilada de palavras,
resplandecente de sentires,
recatada na cumplicidade
do musical que deixaste
gravado, no adeus da saudade.

Levas-me no vermelho labial,
sugado que foi o meu odor,
aspirado no doce sabor
de um arroubo cúmplice
do amor consentido.
- Como dança tribal.
- Fogo ateado em ritual crendice.

Tudo deixa de ter sentido,
o ser, o estar, o amar,
se no olhar travestido
a cumplicidade perdida
se aloja na distância lunar.

OF -  27-11-13
Foto – Autor desconhecido

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Renascer na poética do ser

Um acaloramento me invade, apesar do rendilhado do vestido. Também a natureza se enfeita de rendas como véus esvoaçantes associando-se ao baile das vindimas; aos olhares cúmplices quando dedos pegajosos do suco que larga o cacho cortado apressadamente, se tocam e os sorrisos se soltam em faces vermelhas de verão; às coreografias espontâneas que se teatralizam em cenários naturais se decido sentar-me na plateia do meu ser; aos musicais que surgem em improvisos como em canto de desgarrada, inigualáveis, porque a banda nunca será a mesma…
Como baila este dia outonal respondendo ao desafio de um sol que se pintou de um amarelo indefinido, diluindo o acinzentado de um céu que queria fazer morada, pincelando-o de azuis luminosos onde sobressaem continentes de nuvens branco pureza…
Como me sonho em dias assim, mergulhando nas calmas águas do rio do meu sorriso. No fundo, espelhado está o mundo maravilhoso do meu sentir. Os momentos deste enamoramento. O namoro que faço acontecer. O suspiro profundo desta comunhão que deixo perpetuado nas palavras tatuadas no poema que não escrevi…
Guardo-o e declamo-o, inaudível, para mim. Em dias assim, sem idade, de eterna jovialidade. E é nesta juventude poética que renasço, elixir milagroso que eclipsa qualquer marca temporal…

Odete Ferreira -  06-10-2013

domingo, 10 de novembro de 2013

Ser de razão ou emoção. Eis a questão!

Um tempo de instantes relâmpago.

Um trovejar surdo chegando como marejar
longínquo. Cá dentro a lacrimejar.
Um tempo cadenciado, cronometrado.
Ausente nos instantes de decisão
entre emoção e razão…

Em razão inversa ao tempo,
é o ser de inteligência emocional,
(num sentir tão encovado,
 de morada incerta
 no corpo irracional)
que toma a singular decisão
entre razão e emoção…

Circunstancial pode ser a razão,
desprovida de sentido
quando mede forças com a Verdade
e se digladia com a intuição.
Mas se toma assento a emoção,
o tempo é irmandade
em superior estado fugidio.

Ser de razão ou ser de emoção.
Na dialética eterna questão.

Tratados e raciocínios lógicos,
atestados de argumentos filisóficos,
não dão razão à emoção.

Hoje, em tempos que serão históricos,
num tempo de novo mundo gestionário,
preenche-me a emoção num global imaginário…

OF  - 23-10-2013

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Há momentos que...

Há momentos que nos abalam como rajadas fortes de um vendaval. Depois é preciso tempo para reparar os estragos. É nesses "estragos invisíveis" que tenho aplicado muito do meu tempo nestes últimos dias. Hoje foi mais um dia em que tive de repor algumas coisas no seu lugar. Quando uma pessoa querida parte, há que organizar a sua memória. Como se de um museu vivo se tratasse. Afinal é a nossa identidade que está em causa... A saudade também se coisifica: nos objetos, nos papéis, nas notas manuscritas...
A ausência é apenas física. A presença ficará nos espaços, no tempo da nossa memória, nas diligências formais. Gosto destes gestos. Sou apenas a sua procuradora. No céu tudo é imaterial. E é só por isso que a saudade não é para mim somente um nome abstrato...

Obrigada por tantos gestos de carinho...

Odete Ferreira, 07-11-13

sábado, 2 de novembro de 2013

Sei que me ouves, tio Zé

Sei que me ouves, tio Zé. E não podia ser de outra maneira e se as lembranças não estivessem tão materializadas na minha identidade memorial, não te escreveria…
A tua casa, a casa multifacetada da minha infância, os espaços onde tantos objetos eram já míticos, altares do meu olhar infantil, possuídos do sentido espiritual de ti, do avô Alcino, da avó Cândida, eram já pertença do meu ser menina, como se um lado esotérico me aureolasse…
Na pequenez dos meus seis, sete anos já sabia que um dia habitariam no meu espaço. E habitam! Estão vivos numa divindade de cada um de vós. Há crenças que não se questionam. Sentem-se. Não se explicam. Tal como a natural curiosidade que a avó Cândida, sabiamente, me inculcava com os seus relatos de rituais que continuava a cumprir. Ficava numa espécie de limbo. Saía do tempo real, o eco das suas palavras pousavam-me delicadamente em outros tempos, em outros lugares, envoltos em brumas de mistério…
Na minha juventude, permanecia horas – orelhas  arrebitadas, cotovelos afivelados – a seu lado, fazendo companhia a um corpo inerte, acamado e a uma memória prodigiosa, arrastando-me nos seus fantásticos contos das mil e uma noites. E tanto me viciava como me saciava o voraz apetite pelo misterioso. De tal forma se inculcou que fez parceria na minha relação com a vida e no paulatino questionamento do seu sentido. Queria respostas…
A voracidade de leituras, a atração pelos relatos de fenómenos ditos paranormais, foram centralidade num processo de dialética… Hoje, no distanciamento de décadas, sei que o espírito de cada um de vós, traduzido na atitude e nos atos, nunca foi uma obrigação. Foi devoção. Foi doação. E tu, tio Zé, foste o exemplo mais completo que vivificará no imaginário de cada uma das pessoas a quem te deste. E eu sou uma fidedigna testemunha. E a tua chama olímpica estará em mim, simples estafeta de um caminho que desbravo no interior de mim...
Até já, tio Zé.
OF, 30-10-2013
Foto – Autor desconhecido

(Nas minhas memórias, um momento de memória do Tio Zé, falecido a 27 de outubro, por atropelamento brutal...)

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Até já , tio Zé...

Hoje não. Hoje não há palavras certas. Hoje há apenas lembranças, questionamentos, pensamentos que se atrapalham. Na rede social FB, o que já li de ti, escrito por tanta gente que contigo privou, é muito mais importante a meus olhos do que um texto meu. Fui capaz de sorrir de orgulho, embora de olhar turvado. Partiste assim, sentado perto de um chafariz ouvindo o relato do teu Mirandela. Foi a hora errada para, provavelmente, descansares um pouco antes de fazeres a visita habitual à tua cunhada, minha mãe. Um acidente brutal colheu-te sem teres tempo de te aperceberes, tenho quase a certeza. Certeza, certeza, tenho eu da pessoal TOTAL que foste. Não falta assim tanto tempo para o Natal. O chá de limonete poderá já nem ser feito. Afinal, já não estarás para o degustar com a habitual filhó antes de te levarmos a casa...




quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Fadado destino

Fado.

Vozes dolentes
encantadoras de serpentes,
em hino da nossa portugalidade,
sofridas na saudade,
na saudade perpetuadas.
Um trinar de gargantas
um silêncio escurecido,
intimista.
Sentem-se as almas
no virar da esquina
das ruelas de traça antiga.

Fado.
Canção destino
em novos talentos renascido.
Paixão imortal.
Património mundial.
Sonoridade do sentir,
interioridade do porvir,
futuro que há de vir
na utopia do Santo Graal.
No fado disperso em tipologia,
há encontro geracional
quando o olhar embaciado
nos embala em nostalgia.
           (…)
Será por acaso
que o destino também é fadado?

OF  - 16-10-2013
Foto – Autor desconhecido

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ataque literário… O meu!

Acabei de libertar um livro (uma das Antologias em que sou coautora) num dos cafés que frequento. Expliquei, sumariamente o objetivo da iniciativa ao dono, assim como previamente o havia feito na primeira folha do livro. E lá ficou, vaidoso, a enfeitar uma das mesas. Por momentos, apenas, pois um dos filhos, ao vê-lo, pegou nele, e, quase de imediato, ao ver-me sentada a escrevinhar, e deduzindo que seria meu, vinha devolvê-lo. O pai, prontamente, interrompeu-o, certamente para lhe explicar  o objetivo da iniciativa. O jovem leu atentamente a mensagem inscrita, sorriu e devolveu-o à mesa…

Quantos leitores lerão alguns poemas, que tempo permanecerá no café, são questões de mera circunstância. A semente foi lançada, alguns frutos dará. Mesmo que não frutifiquem na alma, o texto introdutório obrigará o(a) hipotético(a) leitor(a) a refletir na iniciativa…


https://www.facebook.com/photo.php?fbid=742179405796033&set=a.271773609503284.88234.271668552847123&type=1&theater

Odete Ferreira, 19-10-2013


Nota: 19 de outubro foi o dia escolhido para a iniciativa apelidada de “Ataque literário”. Já havia participado em anos anteriores, em outras datas, sob a designação de Bookcrossing. Lembro-me que há dois anos “larguei” um na clínica onde tinha uma consulta marcada, no Porto. Que será feito dele? Resisto à curiosidade. Importa a atitude…



sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Quando o tempo me toma e enamora

Amo sentir os momentos em mim,

sensitivos, emotivos, paliativos
de um querer a saber a infinito.
Pois infinitos são os momentos
que num intenso viver os sinto.

Assim como se amam o mar e a areia,
em cúmplices espasmos cadenciados,
assim rodopio na cadência do relógio,
onde o tempo me toma e enamora.

Se os momentos a mim pertencem,
quem poderá julgá-los de pecado
se meus lábios tua sede recebem,
se tuas mãos me efervescem,
se meu corpo em ti se alimenta?

Pecado é a saudade presente,
não amar o ser ausente,
abafar as palavras sofridas,
abafar o fado que me assiste.

Teço mantas de sonho.
Sorrio no teu peito de outono.
Abraço ramos de proibido fruto.
Crio cenários como torvelinho de ideias
e perco-me como marinheiro em sereias…

OF  - 09-10-2013
Foto – Autor desconhecido, 

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Um novo ciclo...

Assim decidi, há cerca de 9 meses. Preencher um formulário a solicitar a aposentação antecipada. Podia fazê-lo e decidi de sopetão. Tomei uma decisão económico-financeira, como dizia aos colegas em tom de brincadeira. Fui-me preparando para iniciar um novo ciclo. Deixo-vos com o escrito que enderecei à escola, via e-mail, para que chegasse a quem comigo privou. Partilho-o também com todos vós que aqui me visitais...

Para vós….

Permitam-me que vos roube uns minutos ao vosso precioso tempo. Deixai-me fazer presença, através deste simples registo. Dai-me licença para entrar nas janelas que continuareis a abrir às crianças e jovens…
Terminou hoje, 30 de setembro (data em que recebi a carta de “recruta” para outra fase), um ciclo da minha vida. A de estar em efetividade de funções docentes. Não a de ser professora/formadora. Esse cariz acompanhar-me-á até que os olhos cansados (sei lá do quê) se fecharão…
Não estou triste. E, na verdade, acho que já não estaria na escola como o estava antes de, progressivamente, ser tomada de indignação por tantas medidas avulsas, sem rumo, cegas, desprestigiantes, que têm vindo a ser implementadas. Continuo atenta, não deixo de estar a par do que se passa na Educação e sinto-me quase culpada por estar libertada (mas penalizada) de imposições que me poriam doente.
Solidarizo-me com todos vós que continuais na escola (seja ela qual for), frequentemente penosamente mas com a vontade de contribuírdes para o desenvolvimento pessoal e educacional das jovens pessoas que serão futuro deste cantinho (ou farão parte de um outro) que ainda nos faz sorrir com os sucessos de que vamos tendo conhecimento.
Sinto-me grata por ter privado com tanta gente deste território educativo (ou de outros, ocasionalmente), partilhando ideias, desabafando arrufos, defendendo medidas adequadas, ripostando assertivamente perante passividades, elevando a voz quando entendia que se podia fazer de outro modo, com mais eficácia e menos burocracia.
Não peço desculpa por nada. O meu modo de ser e de estar foi sempre pautado por uma ética profissional incrustada no meu genoma humano e pelas circunstâncias do(s) momentos(s). Saudade, sim, terei. Mas aquela que me evoca momentos de um encantamento perante seres humanos de olhar brilhante pela curiosidade despertada, pelo convívio são e pelas gargalhadas de partilhas educacionais, pessoais ou circunstanciais.
Obrigada, amigos, amigas, colegas, abrangendo todos e todas que comigo privaram, (independentemente da função que exerciam), pela vida profissional que me proporcionaram. De mim tereis sempre a atenção e o respeito que (me) mereceis…
Desejo que procureis a serenidade interior de que precisais para que a aura da vossa alma seja um fator de apaziguamento nos momentos imprevistos e, quiçá, perturbadores, em tantos momentos do vosso caminho enquanto seres do ensino e da aprendizagem.
Acredito-me, ainda. Acredito que sejais capazes de trabalhar para um novo paradigma educacional, privilegiando valores ancestrais. Estarei sempre convosco! Abraço-vos…

Odete Ferreira, 30-09-2013 

domingo, 6 de outubro de 2013

Cidadania de pleno direito

Escrevo antes de conhecer qualquer resultado destas eleições autárquicas, tão atípicas, como dizia uma amiga. Tudo pode acontecer, acrescentava.  Por isso mesmo, a caneta apartidária exige-me este escrito, esta partilha de um sentir ao longo de ações cívicas em que participei, dando a cara por um partido e pelos seus candidatos. Aliás, já o faço há um bom par de anos. Não consigo ficar indiferente. Não posso deixar de exercer deveres pelos quais tantos lutaram. Há que honrar o legado de Homens de Fé, de Homens que não se calaram, de Homens que nos outorgaram algo que é inerente ao ser humano – LIBERDADE.
Na génese destas ações em que me empenho, está um desígnio que vai para lá do momento, da conjuntura: a crença no desenvolvimento pessoal das gentes pouco escolarizadas mas possuidoras de visão. E notei diferenças…Uma atitude mais recetiva, um conhecimento da realidade que vai para lá das pedras do seu espaço, a consciência de que ajudam a escavar um poço sem fundo… Resignação, também, o que mais me dói, o que mais me revolta. Ninguém devia criar este estado de ânimo nas pessoas. Crime, digo eu, parafraseando uma série televisiva que via há alguns anos atrás.
Sabe, menina, desde o tempo de Salazar que me mandam apertar o cinto. E isto nunca mais endireita, dizia-me um senhor. Respondia com um silêncio e um olhar pensativo que só adensava a certeza de que há muito se perdera a noção de decência…
E lá continuo partilhando algum do conhecimento que possuo. Sem demagogia. Sem receio. Apenas porque sou assim e tive o privilégio de festejar ABRIL já com alguma consciência, embora muito pouco conhecedora do que se passava nas grandes urbes.
A democracia não pode continuar a ser apenas invocada! Urge convocar rostos atuantes e possuidores de autenticidade no discurso, no gesto, na atitude. Urge erigir um monumento à essencialidade do Homem e lutar por um mundo onde o sol não aqueça apenas uns quantos…

Odete Ferreira, 28-09-2013


(Apenas hoje consegui tempo para fazer sair o texto do manuscrito para o pc. De resto, já conhecem os resultados eleitorais e não seriam eles que me levariam a escrevinhar. São as gentes, sobretudo as mais solitárias, não por opção, as que calam a minha alma e me impulsionam.) 

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Vai chuva, leva a tua música

Chove, não chove.
Intercalada,
como a estação.
Chega a chuva.
Num estremecimento,
intumescida,
a terra suga-a
em emoção.
Aplanada
ou lavrada.
Início de fecundação.
Perfumada
do cheiro exalado,
engalanada
de cores e sabores
abre seu ventre
à semente.
Orgásticos momentos,
comunhão
de um sentir enamorado
sémem em rego depositado.

Seco meus dedos molhados
na pele que me reveste.
Fito o azulado celeste
que me despiu e lavou…

Vai chuva, leva a tua música
derramada
em pauta de murmúrios
e rejuvenesce
a face tisnada
dos leitos já secos de longo estio.

OF  - 02-10-2013
Foto – Autor desconhecido

(Ocupada em deveres cívicos, tenho estado ausente dos blogues. Em breve, lá estarei...)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Há neste outono um luto diferente


Há neste outono algo que me cega.
Há neste outono algo que me ilumina.
A cegueira dos incautos.
A luz dos esperançados.
Há neste outono uma noite que se tarda no dia.

Ainda não te sinto.
Os verdes são primavera.
Os amarelos são verão.
Os negros focos de escuridão.
Incêndios que morreram na tua mão.

Onde morarão as telas outonais,
os vestidos que vestem a estação,
as brisas que acolhem teus ais,
as manhãs que nascem tímidas
e as noites precoces de solidão?

Ainda não te pertenço.
Ainda me quero viva.
Ainda não adormeço.
Mesmo que o sol pardacento
me convide a um estar sonolento.

(Há neste outono um luto diferente…)

OF  - 25-09-2013


(Hoje já choveu...O outono parece que se anunciou. Mas não aquele de que gosto...)